sábado, 13 de junho de 2009

Crise Mundial

1. Origem da Crise


1.1 Setor Imobiliário

A origem de tudo. A construção de novas casas, que representa 4% do PIB americano, despencou. A venda de residências novas continua em queda livre. Trazendo consigo os preços, que para muitos analistas, já começam a ficar interessantes em muitas regiões.

Desde 1997 os preços das residências mais que dobraram em termos reais. Em particular, a alta dos preços residenciais fornece aos consumidores a garantia de que precisam para um aumento enorme na tomada de crédito.

Em crises americanas do passado, o mercado imobiliário sempre foi o sintoma de que uma recessão se aproximava, e não a causa. Desta vez, a fonte do problema está no próprio estouro da bolha imobiliária.


1.2 Endividamento

Em relação à sua renda, os consumidores vêm assumindo mais dívidas há décadas, uma vez que o sistema financeiro cada vez mais sofisticado dos EUA possibilita acesso ao crédito a mais pessoas. Mas o ritmo do endividamento subiu dramaticamente.

A relação da dívida dos domicílios americanos com a renda disponível está agora acima dos 130%. No começo desta década, era de 100%; no começo da década de 90, era de 80%.


1.3 Consumo

Estudos sugerem que as mudanças nos preços das residências têm um impacto maior sobre os gastos do consumidor em países onde os mercados de crédito são mais desenvolvidos, como os EUA.

Esses trabalhos concluem que uma queda de US$ 100 na riqueza financeira é tradicionalmente associada a uma queda de US$ 3 a US$ 5 nos gastos. Já uma queda equivalente no patrimônio habitacional acaba reduzindo os gastos em algo entre US$ 4 e US$ 9.

Considerando o tamanho do setor habitacional é possível prever que os gastos do consumidor cairiam quase dois pontos percentuais por ano.


1.4 Crédito

Por outro lado os bancos já estão reagindo. Segundo a pesquisa mais recente feita pelo Fed com funcionários de bancos americanos responsáveis por empréstimos, um quarto das instituições elevaram suas exigências para empréstimos ao consumidor.

Assim o americano começa a ter dificuldades de obter recursos emprestados.


1.5 Petróleo

Com a perda de liquidez, o americano deve torcer para que o petróleo continue com sua recente tendência de queda. Afinal de contas, qualquer aumento, por menor que seja, na gasolina, tem um forte impacto no poder de consumo da população.

Segundo dados do Goldman Sachs, esse número pode chegar a 1,2% aa sobre os gastos do consumidor.


1.6 Mercado de Trabalho

Até o momento parece estar resistindo bem a toda a turbulência. A divulgação hoje, do número de pedidos de auxilio-desemprego, ficando abaixo da expectativa dos analistas, reforça o fato que as empresas ainda não começaram a dispensar funcionários e a retrair drasticamente a produção.


1.7 Exportações

Boa parte da estabilidade do emprego se deve as exportações. As exportações americanas estão aquecidas enquanto o crescimento das importações diminuiu bastante. Isso reduziu o déficit comercial dos EUA e elevou a produção industrial.

As exportações não continuarão crescendo às taxas alucinantes dos últimos meses, mas com o dólar dando sinais tímidos de recuperação e com as economias emergentes se mostrando particularmente resistentes, as exportações continuarão sendo um impulso importante.


2. Recessão

Juntando todo o exposto acima, teremos (ou já temos) uma recessão ? Difícil de dizer. O ponto em questão é que mesmo que a economia evite tecnicamente uma recessão, a maioria dos americanos terá a impressão que estar em meio a ela - uma vez que a queda virá do consumo. E isso representa uma mudança profunda. Os americanos não estão acostumados a terem que reduzir os gastos.

Mesmo nas recessões anteriores, políticas de corte nos impostos, juros baixos e preço alto das residências, permitiram a população continuar gastando.Agora as mesmas medidas vem sendo adotadas. Bush entrou em ação com um mega pacote tributário…Bernanke surpreende cortando os juros, em uma reunião extraordinária. Se serão suficientes esses eventos, em breve saberemos.

Uma coisa porém parece certa. Neste ano eleitoral, com recessão ou sem, os EUA têm uma estrada traiçoeira pela frente.


3. Conseqüências

3.1 Mundo

As demissões decorrentes da crise têm gerado reações desesperadas na França. Em março de 2009, em três oportunidades trabalhadores franceses fizeram reféns devido a demissões: dia 13, funcionários da Sony detiveram o presidente da empresa no país por uma noite, forçando o pagamento de indenizações maiores pelas demissões; no dia 25, o diretor de operação da 3M foi detido por um dia, sendo libertado após aceitar oferecer melhores condições aos 110 empregados demitidos; e no dia 31, os funcionários da Caterpillar fizeram quatro diretores da empresa reféns, após o anúncio do plano de cortar 733 empregos na unidade.

Por outro lado, as emissões de CO² na União Europeia foram reduzidas em 6% em 2008 em decorrência da crise, de acordo com o instituto de pesquisa Point Corbon, sediado em Oslo.


3.2 Brasil

Alguns economistas defendem que a crise do subprime não afetará significativamente o Brasil. De todo modo, segundo a maioria dos analistas, todos os países do mundo serão tocados, em algum momento, em maior ou menor grau, pelos feitos da crise deflagrada nos Estados Unidos.

No Brasil, o efeito mais imediato foi a baixa das cotações das ações em bolsas de valores, provocada pela venda maciça de ações de especuladores estrangeiros, que se atropelaram para repatriar seus capitais a fim de cobrir suas perdas nos países de origem. Em razão disso, ocorreu também uma súbita e expressiva a alta do dólar.

Como o Brasil tem optado há anos por pagar antecipadamente seus débitos ao FMI e tem adotado acumulado reservas em divisas - que atingiam duzentos e oito bilhões de dólares quando a crise foi deflagrada -, a economia brasileira encontra-se numa posição bem mais confortável para enfrentar essa tempestade mundial do que em crises anteriores.

Até outubro de 2008, os maiores prejuízos com a crise foram das empresas que especulavam com derivativos de câmbio- e fizeram a aposta errada. O governo anunciou que não pretende cobrir, com dinheiro público, as milionárias perdas privadas, decorrentes de apostas mal-sucedidas.

A alta do dólar, embora possa eventualmente causar alguma pressão inflacionária, tende a aumentar a competitividade internacional das exportações do país, já que o preço dos produtos brasileiros, em dólares, cai. No entanto, para os setores da economia brasileira que dependem de importações de produtos industrializados sem similar nacional (máquinas e equipamentos, sobretudo produtos de alta tecnologia) ou mesmo de algumas commodities, como o trigo, o dólar alto é um problema.

No mercado interbancário, houve uma paralisação quase total dos empréstimos normalmente concedidos pelos grandes bancos aos menores. Num primeiro momento, o Banco Central do Brasil decidiu isentar os grandes bancos de uma parte do depósito compulsório, a qual deveria ser destinada a empréstimos aos bancos menores. Mas, devido ao clima de quase pânico que se instaurou nos mercados financeiros em geral, tal medida não se revelou suficiente: os grandes bancos continuavam não concedendo empréstimos aos menores. Assim, o Banco Central decidiu adquirir as carteiras de crédito de que os bancos pequenos desejassem se desfazer, desde que oferecessem garantias.

Para evitar a falta de liquidez (falta de dólares) nos mercados de câmbio, o Banco Central tem realizado leilões de venda de swaps cambiais e, para evitar especulações, em outubro de 2008, realizou até mesmo vários leilões de venda de dólar físico à vista (moeda), utilizando as reservas internacionais do Brasil, o que não era feito desde 2003. Com isto, o BC não pretendia derrubar as cotações do dólar, nem lhes impor um teto, mas somente aumentar a liquidez do mercado.

Por outro lado, o Banco Central tem-se mostrado atento a quaisquer indícios de falta de liquidez no sistema bancário brasileiro, tendo liberado, por mais de uma vez, várias dezenas de bilhões de reais dos depósitos compulsórios, especialmente para os bancos médios e pequenos, preferindo essa irrigar o sistema bancário desta forma, em vez de reduzir os juros básicos (taxa Selic), o que ainda poderia provocar pressões inflacionárias. Se a economia mundial entrar em uma conjuntura de deflação, o que não é impossível, só então os juros poderão ser reduzidos sem medo.


4. Análises e prognósticos


4.1 Soros

George Soros, em seu livro The New Paradigm for Financial Markets (2008), diz que "estamos em meio a uma crise financeira não vista desde a crise de 1929" e declara que essa crise poderia, em tese, ter sido evitada:

“Desgraçadamente temos a idéia de fundamentalismo de livre mercado, que hoje é a ideologia dominante, e que pressupõe que os mercados se corrigem; e isso é falso porque geralmente é a intervenção das autoridades que salvam os mercados quando eles se atrapalham. Desde 1980 tivemos cinco ou seis crises: a crise bancária internacional de 1982, a falência do banco Continental Illinois em 1984 e a falência do Long-Term Capital Management em 1998, para citar três. Cada vez são as autoridades que salvam os mercados, ou organizam empresas para fazê-lo. As autoridades têm precedentes para se basear. Mas, de alguma maneira, essa idéia de que os mercados tendem ao equilíbrio e que seus desvios são aleatórios ganhou aceitação geral e todos estes instrumentos sofisticados de investimentos foram baseados nela .”


4.2 Lula

O presidente Lula, falando na abertura da reunião do G20 financeiro que se realizou em novembro de 2008, em São Paulo, para debater alternativas para a crise internacional, ecoando George Soros, também criticou a crença dogmática na auto-regulação dos mercados:

“Ela (a crise) é conseqüência da crença cega na capacidade de auto-regulação dos mercados e, em grande medida, na falta de controle sobre as atividades de agentes financeiros. Por muitos anos especuladores tiveram lucros excessivos, investindo o dinheiro que não tinham em negócios mirabolantes. Todos estamos pagando por essa aventura. Esse sistema ruiu como um castelo de cartas e com ele veio abaixo a fé dogmática no princípio da não intervenção do Estado na economia. Muitos dos que antes abominavam um maior papel do Estado na economia passaram a pedir desesperadamente sua ajuda”


5. Conclusão


As perdas com as exportações e com o crédito externo serão inevitáveis, embora possam ser minoradas. O governo já vem adotando medidas nesta direção, e outras podem ainda ser tomadas, especialmente a redução da taxa de juros. Porém, onde o Estado pode defender o país de modo mais efetivo é alterando as regras excessivamente liberais dos mercados cambial e financeiro, em especial as de negociação de contratos de futuro. De imediato, estar-se-á evitando a drenagem das reservas de US$ 208 bilhões que podem contrabalançar as perdas com exportações e crédito externo. É hora de proteger nossa economia e as melhorias recentes no padrão de vida do povo, limitando a irrestrita liberdade de movimento do capital.

Para tanto, torna-se necessário que o governo e as forças que o apóiam comecem a criar as condições políticas que permitam adotar essas mudanças. Logo chegará a hora em que o governo Lula terá de conclamar toda a Nação a apoiar essa ação defensiva que minimizará as perdas do presente e poderá garantir um futuro viável para o Brasil no novo mundo que surgirá do rescaldo desta crise sistêmica.

A quebra no paradigma da supremacia absoluta do mercado sobre o Estado pode ser um facilitador das restrições que o Brasil venha a fazer à movimentação de capitais. Mesmo porque, é de se esperar que países do mundo inteiro estarão reformando seus mercados na mesma direção, buscando, como nós, protegerem-se da grande borrasca que se inicia.


6. Referências Bibliográficas



AGLIETTA, Michel (2005). Macroeconomia financeira, Vols. 1 e 2. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

CAGNIN, Rafael F. (2007). O mercado imobiliário e a recuperação econômica dos EUA após 2002. Dissertação de Mestrado, IE/Unicamp, Campinas.

http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2008/10/03/a_crise_economica_mundial_o_brasil-548532607.asp, com acesso em 13 de abril de 2009.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_econ%C3%B4mica_de_2008, com acesso em 20 de abril de 2009.

http://www.chrinvestor.com/2008/01/24/raio-x-da-crise-americana/, com acesso em 01 de abril de 2009.

http://www.inverta.org/jornal/edicao-impressa/424/economia/crisemundial, com acesso em 15 de abril de 2009.

http://www.netlegis.com.br/indexRC.jsp?arquivo=detalhesArtigosPublicados.jsp&cod2=1659, com acesso em 15 de abril de 2009.

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